A cesariana é considerada uma cirurgia insubstituível para salvar a vida da mulher, do bebê ou de ambos. No entanto, alguns veem o procedimento, erroneamente, como uma alternativa ao parto normal. Há quem diga, também, que o parto normal após cesárea é impossível — o que não é verdade.
Neste artigo, desmistificamos o assunto e mostramos que o parto natural (termo mais adequado), salvo condições específicas, é viável mesmo após ter realizado uma cesariana. Para saber mais, continue a leitura!
Por que as taxas de cesárea são tão altas?
Desde 1985, profissionais de saúde de todo o mundo consideram que a taxa de cesariana ideal varia entre 10% e 15%. Mesmo assim, as cesarianas se tornaram mais frequentes, tanto em países desenvolvidos como nos em desenvolvimento.
Vamos aos fatos. A cesariana, quando justificada do ponto de vista médico, é eficaz na prevenção da morbimortalidade materna e perinatal. No entanto, não há benefícios para mulheres ou bebês para quem este procedimento não é necessário. A cesárea desnecessária, vale destacar, priva o bebê das vantagens do parto natural, tais como:
- estímulo à primeira respiração;
- colonização bacteriana saudável;
- ativação hormonal;
- fortalecimento do sistema imunológico;
- adaptação cardiorrespiratória.
Além disso, como qualquer cirurgia, a cesárea está associada a riscos a curto e longo prazo. Esses, aliás, podem durar anos após a intervenção, afetando a saúde da mulher e do bebê, assim como as futuras gravidezes. Isso é particularmente frequente em locais com pouco acesso à assistência obstétrica integral.
Parto normal após cesárea é perigoso?
Não necessariamente. Porém, muita gente ainda acredita que a única escolha segura depois de uma cesariana é outra cesariana. Tamanha pressão social e médica influencia a opção da mulher por essa via de nascimento.
Assim, os mitos se perpetuam, apesar das evidências científicas provarem o contrário. O correto, para escolher com consciência, seria fazer uma prova de trabalho de parto após cesariana.
Enfim, o assunto é tão importante que existe até uma sigla em sua referência: VBAC (do inglês “vaginal birth after a cesarean delivery”, termo traduzido como “parto vaginal após cesárea”). A seguir, listamos os principais mitos referentes ao tal perigo do parto normal após cesárea. Confira!
Mito 1: uma vez cesárea, sempre cesárea
De acordo com o National Institute of Health and Care Excellence (NICE), o VBAC é uma escolha razoável e segura para a maioria das mulheres com cesariana anterior. O American College of Obstetricians and Gynecologists (ACOG) concorda, reforçando que a maioria das mulheres com uma (ou mais) cesariana(s) anterior(es) são boas candidatas ao VBAC.
Mito 2: VBAC aumenta o risco de ruptura uterina
Os fatores de risco para aumento na incidência de ruptura uterina intraparto são:
- ter apresentado o problema na gestação anterior;
- cesárea anterior com incisão uterina alta ou vertical.
Assim, independentemente do tipo de parto na gravidez atual, a ocorrência global de ruptura uterina em pacientes com cesariana prévia é baixa (aproximadamente, 0,3%). Já o risco de ruptura uterina após um corte transversal varia de 0,5% a 0,9%.
Mito 3: VBAC pode levar a complicações graves difíceis de controlar
Existe a ideia de que o parto normal após cesárea aumenta o risco de ter complicações graves, as quais não podem ser adequadamente controladas. Na verdade, o pré-requisito para tentar um parto natural é que ele seja assistido em uma maternidade com estrutura capaz de atender eventuais emergências obstétricas.
Mito 4: não é possível usar analgesia medicamentosa em VBAC
Outro senso comum é o de que não é possível usar analgésicos no VBAC porque a medicação esconderia a dor de uma eventual ruptura uterina. Mas, de acordo com a ACOG, as analgesias e as anestesias peridurais podem ser utilizadas com segurança, pois não mascaram a dor relacionada à ruptura.
Mito 5: os riscos da cesariana são os mesmos de qualquer cirurgia
A cesariana, como qualquer cirurgia, não é isenta de riscos. Esses incluem infecção, hemorragia, danos a órgãos adjacentes, trombose venosa e, até mesmo, aumento da mortalidade materna.
No entanto, os riscos não param por aí. É preciso considerar, também, o impacto psicológico do procedimento. Na cesariana, há um aumento na incidência de depressão pós-parto e maior dificuldade na formação do vínculo afetivo, bem como no processo de aleitamento.
Existem, ainda, os problemas futuros. Quanto a eles, observa-se o aumento do risco de diminuição da fertilidade, placenta prévia, aderências e/ou obstrução intestinal, bem como parto prematuro.
Outro fator adverso é o efeito sobre a flora intestinal e cutânea do recém-nascido. Isso porque, o contato com a flora vaginal materna durante parto natural reduz o risco de desenvolver alergias, asma, obesidade e diabetes.
Mito 6: VBAC não pode (ou não deve) ser induzido
Eventualmente, podem surgir complicações durante a gestação. É o caso da pré-eclâmpsia ou do diabetes descompensado. Nesses quadros, muitas vezes, há necessidade de induzir o parto, mesmo no VBAC.
No entanto, a indução pode fazer a diferença entre ter um parto normal após cesárea ou uma cesariana de repetição. Segundo a ACOG, a indução é segura e deve ser feita com um cateter (do tipo utilizado para esvaziar a bexiga), seguido, se necessário, da administração de ocitocina.
Então, é seguro ter parto normal após cesárea?
Depende de cada caso! Como mostrado, os mitos conduzem, muitas vezes, a opções desvantajosas para a mulher, seu bebê e sua família.
O papel do obstetra é o de discutir, de forma clara e inteligível, todos os riscos e benefícios, tanto da cesárea eletiva, quanto do parto normal após cesárea. Após as explicações, deve-se fazer a escolha em conjunto com a cliente — que, em última instância, é que detém o poder decisório!
No Espaço Binah, somos especialistas em assistência humanizada ao parto, seja natural ou cesariana. Se ainda tiver dúvidas a respeito ou necessita de um agendamento individual para avaliar o seu caso, entre em contato com a nossa equipe de atendimento! Estamos à disposição!