Diversos estudos sugerem que o sangue do cordão umbilical (SCU) possui importantes funções protetivas para recém-nascidos (especialmente, prematuros), devido à presença de células-tronco progenitoras. Assim, o clampeamento tardio do cordão (“demora” para cortá-lo, após o nascimento) está associado a benefícios imunológicos e ao desenvolvimento pulmonar adequado.
Neste artigo, falamos mais a respeito. Continue a leitura e esclareça suas dúvidas!
Propriedades protetivas do SCU
Estudos mostram que bebês prematuros submetidos ao clampeamento tardio têm uma redução significativa na ocorrência de sepses (infecções) de início tardio. Além disso, a alta concentração de células progenitoras hematopoéticas primitivas no SCU desses bebês desempenha um papel essencial no fortalecimento da resposta imune.
Importância das células-tronco do SCU
O SCU é utilizado para tratar diversas condições, tais como doenças hematológicas e imunológicas. Há evidências que pode, também, auxiliar na recuperação de lesões causadas por hipóxia perinatal.
Em estudos pré-clínicos, descobriu-se que a injeção de células mononucleares do SCU em filhotes de ratos com lesões cerebrais isquêmicas preveniu o desenvolvimento de paralisia cerebral. Isso porque, essa células migram para a área lesionada, aliviando sintomas. Ademais, é importante mencionar que elas se concentraram, apenas, nas áreas de lesão, não afetando as regiões saudáveis do cérebro.
Transfusão de SCU e resposta inflamatória
A resposta inflamatória no recém-nascido está associada a desfechos negativos, como o desenvolvimento de paralisia cerebral. A redução do volume sanguíneo neonatal — muitas vezes, resultado do clampeamento imediato do cordão — pode iniciar eventos ligados a essa resposta inflamatória.
Em um estudo, retirou-se 25% do volume sanguíneo de alguns camundongos juvenis. Três horas após a retirada, houve um aumento significativo de citocinas pró-inflamatórias no fígado e pulmões, sugerindo uma resposta inflamatória semelhante à síndrome do desconforto respiratório e falência de múltiplos órgãos. Esse mecanismo, por sua vez, também pode influenciar o desenvolvimento de hemorragia intraventricular em prematuros.
Teoria do volume sanguíneo e transição ao nascimento
A teoria do volume sanguíneo propõe que o principal foco no nascimento deve ser o adequado volume de sangue circulante, em vez de apenas a oxigenação pulmonar. Isso é importante porque, durante o nascimento, ocorre uma mudança abrupta do fluxo de gases da placenta para os pulmões. Portanto, clampear imediatamente o cordão torna essa transição mais rápida, enquanto o clampeamento tardio permite uma redistribuição gradual de sangue do cordão para o recém-nascido.
O sangue contido na placenta desempenha papel crucial, mantendo cerca de um terço do volume sanguíneo total do bebê ao final da gestação. Após o nascimento, os pulmões necessitam de um maior fluxo sanguíneo, com o coração direcionando cerca de 50% do débito cardíaco para os pulmões — um aumento significativo em comparação com apenas 8% durante a vida fetal. Dessa forma, o clampeamento tardio do cordão permite que o sangue da placenta seja transferido para o bebê, contribuindo para uma melhor distribuição de volume sanguíneo e uma transição pulmonar mais eficiente.
O EXIT (ex utero intrapartum treatment) é um procedimento cirúrgico realizado durante o parto, em que o bebê é parcialmente removido do útero, mas permanece ligado à placenta pelo cordão umbilical. Com isso, mantém-se a oxigenação e circulação placentária.
Esse método, vale destacar, é utilizado em casos em que há uma obstrução das vias aéreas ou outras condições que requerem intervenção imediata após o nascimento. Na prática, ele permite que os médicos tenham tempo para garantir a via respiratória do bebê ou corrigir outras complicações antes de finalizar o parto.
O papel do SCU na expansão pulmonar
Outro papel importante do sangue no nascimento é limpar o líquido presente nos alvéolos, facilitando a expansão dos pulmões. O feto produz, aproximadamente, 200 ml/kg/dia de fluido pulmonar e, após o nascimento, esse líquido precisa ser substituído por ar para que a troca gasosa ocorra.
O processo de aspiração pode limpar as vias aéreas, mas não remove o fluido mais profundo nos alvéolos. Este fluido é eliminado através da circulação sanguínea dos capilares ao redor dos alvéolos, graças à pressão osmótica do sangue.
O termo “ereção capilar” descreve, justamente, como a pressão sanguínea nos capilares promove a expansão dos alvéolos. Em experimentos, mostrou-se que a circulação de sangue nos pulmões facilita a entrada de ar, tornando o tecido pulmonar flutuante e eficiente para a troca de gases. Posteriormente, estudos mostraram que a arquitetura pulmonar evolui nas primeiras semanas de vida, com os septos interalveolares se tornando, progressivamente, mais finos.
A partir dessas constatações, surgiu a teoria do volume sanguíneo, que propõe que o aumento do fluxo sanguíneo pulmonar ajuda a expandir os capilares, promover a ereção capilar e limpar o fluido pulmonar, estabelecendo a troca de gases atmosféricos. Com níveis mais altos de oxigênio sistêmico, o centro respiratório do cérebro é estimulado, permitindo que o bebê estabeleça a respiração normal.
Benefícios do campleamento tardio
Como mostrado, há benefícios imediatos ao recém-nascido, como proteção imunológica, melhor transição respiratória e prevenção de respostas inflamatórias. Dessa forma, ao permitir uma transfusão placentária adicional, melhora-se o volume sanguíneo e a saúde nos primeiros momentos de vida, reduzindo complicações, especialmente, em prematuros.
Portanto, o clampeamento tardio, geralmente, é uma prática recomendada por seus efeitos concretos e positivos no início da vida. Cada família, entretanto, deve avaliar suas circunstâncias e expectativas para tomar a decisão mais adequada.
Ficou com alguma dúvida? Entre em contato e converse conosco. A equipe do Espaço Binah, clínica de ginecologia e obstetrícia localizada em Florianópolis, SC, está à disposição!